sábado, 5 de março de 2016

George Orwell - 1984


Ano: 2009 
Páginas: 414
Idioma: português 
Editora: Companhia das Letras

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Publicada originalmente em 1949, a distopia futurista 1984 é um dos romances mais influentes do século XX, um inquestionável clássico moderno. Lançada poucos meses antes da morte do autor, é uma obra magistral que ainda se impõe como poderosa reflexão ficcional sobre a essência nefasta de qualquer forma de poder totalitário

Winston, protagonista de 1984, último romance de George Orwell, vive aprisionado na engrenagem totalitária de uma sociedade completamente dominada pelo Estado, onde tudo é feito coletivamente, mas cada qual vive sozinho. Ninguém escapa à vigilância do Grande Irmão, a mais famosa personificação literária de um poder cínico e cruel ao infinito, além de vazio de sentido histórico. De fato, a ideologia do Partido dominante em Oceânia não visa nada de coisa alguma para ninguém, no presente ou no futuro. O´Brien, hierarca do Partido, é quem explica a Winston que "só nos interessa o poder em si. Nem riqueza, nem luxo, nem vida longa, nem felicidade: só o poder pelo poder, poder puro". 

Quando foi publicada em 1949, poucos meses antes da morte do autor, essa assustadora distopia datada de forma arbitrária num futuro perigosamente próximo, logo experimentaria um imenso sucesso de público. Seus principais ingredientes - um homem sozinho desafiando uma tremenda ditadura; sexo furtivo e libertador; horrores letais - atraíram leitores de todas as idades, à esquerda e à direita do espectro político, com maior ou menor grau de instrução. À parte isso, a escrita translúcida de George Orwell, os personagens fortes, traçados a carvão por um vigoroso desenhista de personalidades, a trama seca e crua e o tom de sátira sombria garantiram a entrada precoce de 1984 no restrito panteão dos grandes clássicos modernos.

O que eu achei

Muitas editoras (a maioria, na verdade) recusa-se a usar a expressão "crítica ao comunismo". Mas está claríssimo no livro de Orwell, esse magistral, esse fulgurante romance distópico sobre um mundo futuro (o de agora, suponho) onde tudo e todos estão sendo vigiados, por um governo autoritário ao máximo - que é uma crítica ao comunismo. Não falam (nem em blogs de esquerda, nem em editoras) que o livro É UMA CRÍTICA FORTÍSSIMA ao COMUNISMO.


É uma ficção, um romance mas impregnado de fortes emoções. Sente-se nele toda a rebeldia e o terror de um homem que conheceu de perto o totalitarismo comunista, ao ponto de ter escrito antes desse, o curisoso "A Revolução dos Bichos", onde os porcos são nitidamente os "porcos comunistas". E o porco mais velho, o "Major" é o grande doutrinador da bicharada: 

“Então, camaradas, qual é a natureza da nossa vida? Enfrentemos a realidade: nossa vida é miserável, trabalhosa e curta. Nascemos, recebemos o mínimo de alimento necessário para continuar respirando e os que podem trabalhar são forçados a fazê-lo até a última parcela de suas forças; no instante em que nossa utilidade acaba, trucidam-nos com hedionda crueldade. Nenhum animal, na Inglaterra, sabe o que é felicidade ou lazer, após completar um ano de vida. Nenhum animal, na Inglaterra, é livre."

Em 1984, porém, a crítica é muito séria, contundente e assustadoramente atual. Enquanto lia, ia comparando as absurdas condições daquele mundo onde o "Grande Irmão" (o Partido Único) mandava em tudo, vigiava as pessoas em tudo o que faziam, controlava o que comiam e bebiam (sempre alimentos ruins e de má qualidade) e modificava a língua (uma forma de evitar que as pessoas pensassem, uma vez que com um idioma em constantes mutações, perdiam-se palavras, perdiam-se ideias que expressassem antigas ideias, perdia-se enfim, o contato com toda a realidade).

Esse é o objetivo da Novilíngua (a língua que substitui o inglês antigo, dentro da trama de Orwell). Mudar, mudar sempre, não deixar que o povo se acostume às mesmas expressões e palavras por muito tempo. É interessante lembrar que hoje mesmo no Brasil, a página do governo federal no Facebook, a "Humaniza Redes" já nos brindou com algumas pérolas que propõe apagar várias palavras e/ou expressões de nossos dicionários ou vocabulários. É o caso, por exemplo, das expressões "minhas negas" ou "a coisa está preta". Bem, sobre a primeira expressão "racista" eu dei uma resposta no próprio site. Sobre a segunda expressão - cúmulo do ridículo - os próprios internautas responderam.


Voltando ao livro de Orwell, a trama é muito bem urdida e como já citei, tem muitas similaridades com o nosso "admirável mundo novo socialista": A subversão de valores, o uso constante do verbo "denuncie", onde cada cidadão do "Partido" precisava se policiar e policiar todos ao seu redor. Filhos delatam pais, maridos delatam esposas e vice-versa, amigos delatam amigos. O terror da constante vigilância dá o tom, comanda tudo. Ninguém pode confiar em ninguém.

O personagem Winston é um homem infeliz, relembra sua infância - antes que a ditadura comunista tomasse conta do mundo - e não consegue se conformar com o destino que o mundo tomou, desde então. A comida que come, a cerveja que bebe, o apartamento onde mora: tudo é sem graça, sem gosto, sem beleza. Mas como ele poderia ter certeza de que o mundo não foi sempre assim, sem nenhum parâmetro, sem ter nenhuma outra referência de mundo melhor? Se para ele tudo aquilo é normal (embora um certo pensamentozinho em sua cabeça insista em dizer que não, que aquele mundo feio um dia fora mais bonito, mais alegre, mais livre, mais confortável)? Entretanto, ele sente algo em seu íntimo. Queria saber como o mundo fora antes da "Revolução", mas não existem mais livros de história, exceto os livros que o Partido escreveu, e nesses ele não pode confiar: são simples compilações de estorias criadas pelo próprio Partido.

A história de Winston é triste, mas a trama do livro é envolvente, assustadora e realista. O final é digno de um gênio literário como Orwell: Impossível você ler aquele final e deixar de comparar as situações que ele viveu e a revolução cultural que o mundo dele sofreu com as que estamos vivendo hoje. De maneira muito lenta e sutil, mas estamos vivendo.

Recomendo o livro a todos que querem, além de uma boa distração, se darem conta de que nossa realidade poderá ser terrivelmente alterada. Mas que nós ainda podemos impedir que isso aconteça.

2 comentários:

  1. Tenho vontade de ler esse livro. Já li a Revolução dos Bichos, que é um livro muito triste, pois mostra a esperança pela mudança pela violência dos dominadores. Exatamente como acontece agora, com muitas pessoas glorificando o comunismo, porque enquanto utopia ele é lindo, mas depois que todos estão inseridos no sistema, eis que vem o domínio através de todas as formas de violência.
    Já li outros livros de autores "sobreviventes" ao comunismo, como Anatoli Ribakov e uma autora chinesa de que não me recordo o nome, mas que me inspirou para fazer o início daquele conto "K'ien".
    E falando em China, o comunismo conseguiu destruir uma civilização de 20 mil anos! Uma civilização com tão belas filosofias, que cutuavam a divindade em cada ser vivo, com uma cultura e História riquíssimas. Aliás, a Rússia também foi destruída por essa doutrina nefasta: destruída primeiro em 1200 e alguma coisa, com a invasão de tártaros mongóis; destruída pela segunda vez no início de 1918, que se por um lado libertou o povo de uma monarquia fraca e falida, por outro escravizou de forma muito pior e, de quebra, invadindo outros países e anexando a todos, até que sugou tudo o que todos tinham e, quando não mais havia nada a ser sugado, largou todos de mão ao dissolver a URSS.
    Mas, no meu achismo, ainda penso que comunismo é só a outra face da moeda do capitalismo. Ambos sistemas têm que cair, pois não serão comportados dentro de um mundo regenerado, onde só sobreviverão aqueles que conseguirem agir através da fraternidade.
    Quanto a essas modificações na língua portuguesa, temos que isso já venha ainda de muito mais tempo, basta vez o semianalfabetismo dessa geração com agora 20 anos! Estão sendo incapazes de acertar todas as palavras de uma frase minúscula como "A casa é da vovó"!
    E na bandeira do estado da Paraíba, está a palavra "NEGO"... será que vão querer abolir também, mandar fazer uma nova bandeira? Pois irão querer também tirar o verbo NEGAR do dicionário, afinal "eu nego", "ela nega", rsrs. E é bom que venham abolir também o preto da palheta de cores, pois mais racista que uma palheta de cores não há, quando afirma que preto nem é cor, mas apenas escuridão ou sombra XD e o branco, seu oposto, que também não é cor, mas LUZ... hihih, aí phodeo XD~

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  2. Eu comecei a ler A Revolução dos Bichos também, mas não terminei. Mas acho que sei como termina...

    DE FATO, a famigerada URSS era um trambolho devorador de almas - a desgraça da KGB deixou sua peçonha em todos os países do Ocidente. E em vários da África, não nos esqueçamos da pobre África! Antes, devastada pelo primitivismo dos povos, pela falta de cultura. Depois, quando começou a ser colonizada (e essa palavra hoje em dia tem a péssima conotação de 'domínio-pelo-branco-opressor' e é muito usada pelas esquerdas), poderia - após as independências dos países - progredir, avançar, usufruir das suas próprias riquezas... infelizmente, aconteceu lá o que agora acontece aqui: abandonados os povos africanos à própria sorte, no pós-colonialismo, vieram os muçulmanos e os esquerdistas. Agora, a maior praga do mundo está na África, pior que os antigos tempos de tribos primitivas: uma mistura de islamo-comunismo.

    E o que dizer da China??? Como você mesma falou, a China está perdia... Lástima! Uma cultura milenar, rica, cheia de misticismo, de beleza! Com uma arte maravilhosa... tudo hoje destruído.

    Sim, existe o capitalismo ou melhor, o comuno-capitalismo, como dizem os estudiosos do globalismo. O capitalismo nunca foi uma ideologia, apenas um lado da moeda do libertarianismo. E, segundo o que estudei, libertários são os que abrem as portas para o comunistas. São os libertários que aplaudem a liberação da maconha, do aborto, do tráfico de drogas, da destruição das famílias e são, na maioria, ateus.

    A única coisa que me considero, é conservadora... Para mim, o conservadorismo é o oposto do comunismo e do libertarianismo - não o capitalismo (que hoje é a saída perfeita para os comunistas dominarem tudo). Vide a China, que perdeu todas as suas tradições milenares e virou uma imensa fábrica de escravos...

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